Festa Punk
Bateu uma nostalgia enorme assistindo o Botinada hoje. Esse documentário dirigido por Gastão Moreira conta a história do punk rock no Brasil. Tem entrevistas com integrantes daquela cena e imagens sensacionais da época. Assistindo me lembrei exatamente do por quê de eu ter entrado pro Inkoma, mais ou menos uns quinze anos atrás.
O sentimento contido nas bandas daquela época ( 1976-1984) era exatamente o meu nos anos 90. Muitos anos depois, lá estava eu em Salvador sentindo o mesmo que eles: a total inadequação, a perplexidade diante das regras absurdas de uma sociedade podre, a raiva de ter que sobreviver a qualquer custo, enfrentando um ônibus lotado todos os dias pra ganhar um salário minguado no fim do mês, o ser discriminado pela aparência, roupas, posses. E a vontade de gritar contra tudo isso bem alto, mesmo sem ter instrumentos ou saber tocar direito. Eis aí a função dos emblemáticos três acordes: eles tornavam a coisa possível pra qualquer um que tivesse algo a dizer. Não precisa ser um gênio musical pra se expressar, aprenda três acordes básicos e consiga botar pra fora tudo o que te aflige. Essa era a arma. Os meu heróis na época eram, antes de mais ninguém, os Ramones. E mais os Pistols, Inocentes, Cólera, RDP, Olho Seco, Replicantes, Stooges. Tudo o que fosse rápido, tosco e sujo me atraía. Depois veio Dead Kennedys e Bad Brains, que até hoje são duas das minhas bandas prediletas de todos os tempos, mas aí já tinha virado hardcore.
Entrei pro Inkoma por isso: pra ter uma válvula de escape, pra gritar, pra poder reclamar mesmo. Acreditava de coração que aquela era a minha munição, que era daquele jeito que nós iríamos consertar o mundo. Me indignava por não ter grana e ver as patricinhas na escola tirando onda de roupinha nova, e escrevia sobre desigualdade e humilhação. Era criticada e desacreditada no trabalho por me vestir diferente, ter cabelo colorido, usar correntes ou alfinetes, e escrevia sobre preconceito e injustiça. Máscara, inclusive, nasceu numa dessas.
Fiz tudo aquilo que os caras do Botinada também fizeram anos atrás: distribuí panfleto de xerox divulgando um show que nós mesmos tínhamos produzido, montei barraquinha pra vender fita cassete demo, fui demitida por priorizar minha banda ou por não me “adequar” visualmente, me juntei com outras bandas e tentamos formar uma cena. Arrumava equipamento pra tocar de qualquer jeito, emprestado, o que fosse necessário pra fazer acontecer, porque eu acreditava. A revolta das letras contra o sistema não eram mero clichê. Elas eram legítimas, eu vivia aquilo. Eu realmente acreditava. Vivia na rua, no mundo cão, tendo que me defender sozinha. Eu era bicho solto.
Fizemos umas músicas, e eu trabalhava como recepcionista no Studio Zero que era uma produtora de áudio voltada mais pra publicidade do que pra música. Vazquez era técnico de gravação nesse estúdio. Uruguaio e roqueiro, rapidamente se tornou meu amigo. Depois de muito pedido meu e do apoio de Vazquez junto aos donos do estúdio, finalmente nos cederam algumas horas na madrugada pra que a gente pudesse gravar nossa primeira fita demo, “Pilha Pura”. Corria o ano de 1996.
Tudo como manda o figurino: capinha de xerox PB, letras inflamadas e gravação tosquinha. Delícia. Daí até gravar o primeiro EP “Influir” (dessa vez em CD, suuper moderno) foi um longo caminho. Nesse meio tempo rolaram algumas coletâneas, e a gente se integrando com a cena hardcore de outros estados, trocando fitas demo, divulgando em fanzines de papel. Nessa época nossos contemporâneos eram Mukeka de Rato, DFC, Os Cabelo Duro, Bosta Rala, Lisergia, Dead Fish, Poindexter, Sutien Xiita, Gangrena Gasosa, Devotos do Ódio, Detergente CO. Haviam muitas e muitas outras, mas esses eram meus prediletos.
Inkoma foi minha escola, o do it yourself vivido de forma intensa, e agradeço imensamente por isso. Não seria quem sou se não tivesse passado por tudo aquilo, inclusive os perrengues. Porque, claro, nem tudo eram flores. As tretas volta e meia aconteciam.
Existia em Salvador o MAP- Movimento Anarco-Punk- que reivindicava para si alguns direitos sobre tocar e falar de punk e hardcore. Para eles, qualquer pessoa de fora do movimento estava desautorizada a usar esses termos. E lá estava eu, não sendo do movimento, cantando numa banda intitulada punk rock/HC, e ainda por cima entoando um refrão que dizia que “hardcore é diversão”. Aí, fudeu. Recebi a notícia de que o MAP me convocava para um encontro, para discutir a situação. Achei graça. Era no mínimo irônico um movimento que prega liberdade de expressão me chamar para tirar satisfação sobre algo que eu tenha escrito. E eu fui, queria ouvi-los e ser ouvida. Já conhecia muitos membros de vista, ou de ter esbarrado pelas quebradas e shows na cidade.
De ter mais proximidade só conhecia mesmo Grito, um cara sempre de boné e panfletos a postos, pronto para “educar” os alienados. Nós nos conhecemos discutindo, claro. Ele provavelmente me intimando na porta de algum show, me questionando sobre alguma postura minha, querendo saber das minhas ideologias. Obrigada, Grito. Você me fez aprender a pensar e a estar sempre preparada para defender meus argumentos e ideias. Sempre pronta pra guerra verbal. Mesmo quando alguém me parava na rua e dizia: “tá usando a camisa dessa banda por quê? fala o nome do primeiro disco deles senão vai perder a camisa agora, otária”. Isso me deu uma base fodida pra vida. De não ser leviana. De não fazer/usar as coisas só por oba-oba. De saber porquê eu carrego determinados símbolos, de ser coerente e verdadeira com minhas ideias, e de saber brigar por elas.
Meu encontro com o MAP foi basicamente isso: a inquisição do anarco punk soteropolitano me julgando porque eu havia escrito que hardcore é diversão. Nunca quis fazer parte do movimento por uma questão muito simples: eram muitas regras e convenções, numa instituição que teoricamente defendia a abolição de regras e convenções. Me parecia incongruente. Preferia ser livre e fazer o que eu quisesse, do jeito que eu quisesse, e dizer exatamente o que eu quisesse. Autonomia total e nenhuma submissão ao que quer que fosse, tendo como única regra jamais interferir no espaço do outro. Isso pra mim era viver punk rock, coisa que carrego até hoje: me sinto no direito de fazer o que eu quiser, desde que não machuque ninguém além de mim mesma.
Assistir o Botinada me trouxe todas essas memórias e lembranças. Atualmente, pra muitas pessoas os clichês e frases do movimento punk soam datados e infantis. Sim, já fomos todos jovens um dia, e daí? Esse era o jeito que sabíamos lidar com o mundo ao redor. E tudo foi ficando muito banalizado com o passar do tempo, com o conceito de punk sendo encarado apenas como uma coisa estética, e etc.
Hoje, os tempos são outros. E pra novos tempos, novas formas de discurso e de linguagem. Pessoalmente, leio as coisas que escrevia naquele tempo e as que escrevo hoje e identifico exatamente os mesmos temas e essência; porém com outro vocabulário, mais subjetivo e metafórico. Pensando que a mudança começa dentro e que é necessário resolver a si mesmo para mudar o entorno. Uma ficha que tinha começado a cair quando escrevi “Revolução Mental”, pro EP do Inkoma:
"Cada cérebro é um QG/ cada homem, uma tropa
Se prepare pro ritual de cada dia/A revolução se faz a cada dia
Todo lugar, toda hora, todo detalhe vai influir
Dentro de cada mente se concentra um universo”
Sim, ainda acredito em revolução.
* PS- Assistam o Botinada. É um registro muito bacana de um dos movimentos musicais mais importantes do nosso país.
Bateu uma nostalgia enorme assistindo o Botinada hoje. Esse documentário dirigido por Gastão Moreira conta a história do punk rock no Brasil. Tem entrevistas com integrantes daquela cena e imagens sensacionais da época. Assistindo me lembrei exatamente do por quê de eu ter entrado pro Inkoma, mais ou menos uns quinze anos atrás.
O sentimento contido nas bandas daquela época ( 1976-1984) era exatamente o meu nos anos 90. Muitos anos depois, lá estava eu em Salvador sentindo o mesmo que eles: a total inadequação, a perplexidade diante das regras absurdas de uma sociedade podre, a raiva de ter que sobreviver a qualquer custo, enfrentando um ônibus lotado todos os dias pra ganhar um salário minguado no fim do mês, o ser discriminado pela aparência, roupas, posses. E a vontade de gritar contra tudo isso bem alto, mesmo sem ter instrumentos ou saber tocar direito. Eis aí a função dos emblemáticos três acordes: eles tornavam a coisa possível pra qualquer um que tivesse algo a dizer. Não precisa ser um gênio musical pra se expressar, aprenda três acordes básicos e consiga botar pra fora tudo o que te aflige. Essa era a arma. Os meu heróis na época eram, antes de mais ninguém, os Ramones. E mais os Pistols, Inocentes, Cólera, RDP, Olho Seco, Replicantes, Stooges. Tudo o que fosse rápido, tosco e sujo me atraía. Depois veio Dead Kennedys e Bad Brains, que até hoje são duas das minhas bandas prediletas de todos os tempos, mas aí já tinha virado hardcore.
Entrei pro Inkoma por isso: pra ter uma válvula de escape, pra gritar, pra poder reclamar mesmo. Acreditava de coração que aquela era a minha munição, que era daquele jeito que nós iríamos consertar o mundo. Me indignava por não ter grana e ver as patricinhas na escola tirando onda de roupinha nova, e escrevia sobre desigualdade e humilhação. Era criticada e desacreditada no trabalho por me vestir diferente, ter cabelo colorido, usar correntes ou alfinetes, e escrevia sobre preconceito e injustiça. Máscara, inclusive, nasceu numa dessas.
Fiz tudo aquilo que os caras do Botinada também fizeram anos atrás: distribuí panfleto de xerox divulgando um show que nós mesmos tínhamos produzido, montei barraquinha pra vender fita cassete demo, fui demitida por priorizar minha banda ou por não me “adequar” visualmente, me juntei com outras bandas e tentamos formar uma cena. Arrumava equipamento pra tocar de qualquer jeito, emprestado, o que fosse necessário pra fazer acontecer, porque eu acreditava. A revolta das letras contra o sistema não eram mero clichê. Elas eram legítimas, eu vivia aquilo. Eu realmente acreditava. Vivia na rua, no mundo cão, tendo que me defender sozinha. Eu era bicho solto.
Fizemos umas músicas, e eu trabalhava como recepcionista no Studio Zero que era uma produtora de áudio voltada mais pra publicidade do que pra música. Vazquez era técnico de gravação nesse estúdio. Uruguaio e roqueiro, rapidamente se tornou meu amigo. Depois de muito pedido meu e do apoio de Vazquez junto aos donos do estúdio, finalmente nos cederam algumas horas na madrugada pra que a gente pudesse gravar nossa primeira fita demo, “Pilha Pura”. Corria o ano de 1996.
Tudo como manda o figurino: capinha de xerox PB, letras inflamadas e gravação tosquinha. Delícia. Daí até gravar o primeiro EP “Influir” (dessa vez em CD, suuper moderno) foi um longo caminho. Nesse meio tempo rolaram algumas coletâneas, e a gente se integrando com a cena hardcore de outros estados, trocando fitas demo, divulgando em fanzines de papel. Nessa época nossos contemporâneos eram Mukeka de Rato, DFC, Os Cabelo Duro, Bosta Rala, Lisergia, Dead Fish, Poindexter, Sutien Xiita, Gangrena Gasosa, Devotos do Ódio, Detergente CO. Haviam muitas e muitas outras, mas esses eram meus prediletos.
Inkoma foi minha escola, o do it yourself vivido de forma intensa, e agradeço imensamente por isso. Não seria quem sou se não tivesse passado por tudo aquilo, inclusive os perrengues. Porque, claro, nem tudo eram flores. As tretas volta e meia aconteciam.
Existia em Salvador o MAP- Movimento Anarco-Punk- que reivindicava para si alguns direitos sobre tocar e falar de punk e hardcore. Para eles, qualquer pessoa de fora do movimento estava desautorizada a usar esses termos. E lá estava eu, não sendo do movimento, cantando numa banda intitulada punk rock/HC, e ainda por cima entoando um refrão que dizia que “hardcore é diversão”. Aí, fudeu. Recebi a notícia de que o MAP me convocava para um encontro, para discutir a situação. Achei graça. Era no mínimo irônico um movimento que prega liberdade de expressão me chamar para tirar satisfação sobre algo que eu tenha escrito. E eu fui, queria ouvi-los e ser ouvida. Já conhecia muitos membros de vista, ou de ter esbarrado pelas quebradas e shows na cidade.
De ter mais proximidade só conhecia mesmo Grito, um cara sempre de boné e panfletos a postos, pronto para “educar” os alienados. Nós nos conhecemos discutindo, claro. Ele provavelmente me intimando na porta de algum show, me questionando sobre alguma postura minha, querendo saber das minhas ideologias. Obrigada, Grito. Você me fez aprender a pensar e a estar sempre preparada para defender meus argumentos e ideias. Sempre pronta pra guerra verbal. Mesmo quando alguém me parava na rua e dizia: “tá usando a camisa dessa banda por quê? fala o nome do primeiro disco deles senão vai perder a camisa agora, otária”. Isso me deu uma base fodida pra vida. De não ser leviana. De não fazer/usar as coisas só por oba-oba. De saber porquê eu carrego determinados símbolos, de ser coerente e verdadeira com minhas ideias, e de saber brigar por elas.
Meu encontro com o MAP foi basicamente isso: a inquisição do anarco punk soteropolitano me julgando porque eu havia escrito que hardcore é diversão. Nunca quis fazer parte do movimento por uma questão muito simples: eram muitas regras e convenções, numa instituição que teoricamente defendia a abolição de regras e convenções. Me parecia incongruente. Preferia ser livre e fazer o que eu quisesse, do jeito que eu quisesse, e dizer exatamente o que eu quisesse. Autonomia total e nenhuma submissão ao que quer que fosse, tendo como única regra jamais interferir no espaço do outro. Isso pra mim era viver punk rock, coisa que carrego até hoje: me sinto no direito de fazer o que eu quiser, desde que não machuque ninguém além de mim mesma.
Assistir o Botinada me trouxe todas essas memórias e lembranças. Atualmente, pra muitas pessoas os clichês e frases do movimento punk soam datados e infantis. Sim, já fomos todos jovens um dia, e daí? Esse era o jeito que sabíamos lidar com o mundo ao redor. E tudo foi ficando muito banalizado com o passar do tempo, com o conceito de punk sendo encarado apenas como uma coisa estética, e etc.
Hoje, os tempos são outros. E pra novos tempos, novas formas de discurso e de linguagem. Pessoalmente, leio as coisas que escrevia naquele tempo e as que escrevo hoje e identifico exatamente os mesmos temas e essência; porém com outro vocabulário, mais subjetivo e metafórico. Pensando que a mudança começa dentro e que é necessário resolver a si mesmo para mudar o entorno. Uma ficha que tinha começado a cair quando escrevi “Revolução Mental”, pro EP do Inkoma:
"Cada cérebro é um QG/ cada homem, uma tropa
Se prepare pro ritual de cada dia/A revolução se faz a cada dia
Todo lugar, toda hora, todo detalhe vai influir
Dentro de cada mente se concentra um universo”
Sim, ainda acredito em revolução.
* PS- Assistam o Botinada. É um registro muito bacana de um dos movimentos musicais mais importantes do nosso país.
texto por: Pitty Leone, retirado do http://www.pitty.com.br/blog.php
diva quero que saibas que em um lugar do mundo alguém daria a VIDA para te abraçar.te amo mesmo nao podendo ter vc ao meu lado...E eu sei que temos uma coisa em comum que é o rock que corre em nossas veias TE AMO PRISCILLA NOVAES LEONE MINHA DIVA ETERNA
ResponderExcluirPitty Parabéns agora pelos seus 33 anos de vida.E kero que saibas que eu te admiro mt como cantora e como mulher de verdade que nao usa suas bundas e seus peitos para consseguir oque quer.Sei que tem muitas pessoas que dissem que amam mais e que tem mais fotos no orkut doque eu mas essas pessoas nao entendem que nos que somos verdadeiros fãns admiramos e respeitamos a banda PITTY sou cirticada na escola por nao gostar de Justin Bieber mas eu nao ligo pq se eu for deixar VC eu sei q nao vou ser a mesma pessoa feliz.Nunca jamais trocaria vc por um LIXO COLORIDO desses.Pitty aonde quer que eu va vc vai estar akie no meu S2 E como digo eu ainda irei te abraçar e dizer td q sinto por ti e qando esse dia cehgar sem dúvidas vai ser o MELHOR DIA DA MINHA VIDA(ROCK NA VEIA,PITTY NO CORAÇÃO)ETERNA
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